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É possível ter cuidado, sem ter medo?

Atualizado: 26 de jan. de 2021



Qual é o impacto real que a emoção medo, poderá ter, no nosso sistema imunitário?


A imunidade inata atua em conjunto com a imunidade adaptativa e caracteriza-se pela rápida resposta à agressão, independentemente de estímulo prévio, sendo a primeira linha de defesa do organismo.


O equilíbrio do sistema imunológico é muito delicado.


A psiconeuroimunologia dedica-se ao estudo das relações entre os stressores psicossociais, as emoções e os sistemas neuro-imunológicos que organizam a resposta adaptativa ao stress.


O sistema imunológico é um sistema integrado com os sistemas endócrino e o sistema nervoso, todos a funcionar de forma integrada, e muito complexa.


O que se sabe é que situações tensas desencadeiam a imediata produção de hormonas, e são libertadas hormonas pelo corpo, com as suas consequências:

- Adrenalina, uma hormona que acelera o coração, mantem o corpo em alerta, diminui a digestão para poupar energia;

- Cortisol, substância que eleva a tensão arterial e aumenta o aporte de energia aos músculos dos membros (braços e pernas, saindo do core, onde se encontram os orgãos vitais).


Como o cortisol também está relacionado com o bom funcionamento do sistema imunológico, alterações na sua concentração no sangue podem deixar o sistema imunológico mais fragilizado, aumentando a probabilidade da pessoa ter doenças, como resfriado, gripe ou outros tipos de infecção.


O estado de alerta constante, está relacionado com o aumento das doenças auto-imunes.

Se o stress está relacionado com problemas imunológicos, parece óbvio que as estratégias que procuram reduzir o stress terão um efeito positivo sobre o seu funcionamento, o que foi comprovado por vários estudos.


Ao contrário, ter medo pode até ser um componente interessante à medida que dá contornos à nossa coragem. Ser corajoso é saber reconhecer os perigos e saber avaliá-los em sua realidade efetiva, e isso só o fazemos pela sensação de medo.


Produção excessiva de cortisol e adrenalina


Quando em excesso a tensão, o stress, a ansiedade, que se caracterizam por medo do presente e/ou do futuro ou do desconhecido, provocam reacções no organismo desagradáveis, como:

  • arritmias;

  • tensão alta;

  • frio;

  • tremores;

  • diminuição da imunidade;

  • dor de cabeça e enchaquecas;

  • doenças cardíacas;

  • doenças auto-imunes;

  • depressão;

  • aumento da obesidade;

  • fadiga;

  • redução da líbido;

  • problemas na concentração e memória;

  • problemas digestivos;

  • doenças cardiovasculares;

  • alterações no ciclo menstrual.


O medo não tem de ser um vilão.


Todas as experiências na vida de uma pessoa, são organizadas e processadas de formas diferentes, e tem consequências quer do ponto de vista psicológico, quer da saúde física, afectando vários sistemas, que se inter-relacionam.


Voltando à pergunta original, para se ter cuidado em relação a um assunto, sim é necessário ter uma sensação de medo, é essa mesma emoção que nos leva a agir de forma cuidadosa ou corajosa, mas esse medo serve o propósito de alertar para algo e deve ser ultrapassado, dando lugar a outras emoções, como a confiança, a coragem e em última análise voltar para o bem estar geral.


Sem o medo, não temos a oportunidade de exercer várias outras competências, como por exemplo, a coragem, a responsabilidade, o discernimento, o bom senso e todas essas qualidades que ajudam e fazem parte de ser um ser humano.


Todas as emoções, inclusivé as emoções negativas ou desagradáveis, servem um propósito, e têm um potencial de aprendizagem e evolução.


Se a pessoa conseguir encarar as situações que provocam medo, de forma instrutiva essa situação conseguirá trazer-lhe benefícios. Podemos encarar as emoções como lugares de passagem.


As emoções, são lugares de passagem, no sentido em que, passamos por elas, e as utilizamos, para entender cada situação, com maior acuidade. A emoção ajuda a compreender melhor as experiências, e a nós mesmos.


O uso da reflexão consciente faz-nos entender que as situações desagradáveis, onde estamos com medo, se podem tornar positivas se ultrapassadas.

Se eu tiver a consciência que estou com a ilusão de que algo de ruim vai acontecer, que na verdade não está a acontecer, e poderá nem vir a acontecer, e a probabilidade de acontecer torna-se mais baixa, porque eu já estou consciente, então já me estou a cuidar.


Por outras palavras, eu passo pelo medo, para me cuidar, e mal eu me esteja a cuidar, eu posso abandonar o medo, e ir para um, outro lugar, dentro de mim, passo para a confiança, por exemplo, ou a coragem, dependendo da situação.



Posso passar do medo, para outra emoção negativa também, por exemplo a irritabilidade, ou descontentamento, sim, são outros lugares de passagem, novas emoções.


A possibilidade de sair do medo e ir mais fundo na negatividade também existe, quando a pessoa não consegue lidar psicologicamente com uma situação ou, ela se torna real, e entra no desespero, na angústia. Mas mesmo nesses casos, tudo passa. Nada permanece para sempre, pelo menos, enquanto houver vida, existe a possibilidade de transmutação das emoções.


Conseguimos entender, com estas reflexões, que ficam mais perguntas, do que respostas.



Existe apenas, a escolha de cada pessoa, com base no seu entendimento, discernimento, capacidade de responder, aprender e evoluir como ser humano.


Se é necessário ter medo, para ter cuidado?


Sim, inicialmente sim, mas será necessário manter o medo constante? Não.

Sabendo que, se ele for mantido, prejudicamos o nosso sistema imunitário, aumentamos a nossa tensão arterial e sentimos angústia psicológica, talvez, seja boa ideia, fazer o possível para deixar de sentir medo.


Assim que, percebemos os cuidados que devemos ter, podemos avançar para outras paragens.



O medo como dispositivo biopolítico



Não me querendo expandir num tema que é complexo e exigiria uma vasta leitura, quero só salientar aqui, duas premissas que tem sido consideradas pela sociedade como dado adquirido:


- Primeira premissa: a população (só) se comporta bem, porque existe o medo da represália, e do castigo;

- Segunda premissa: quando uma regra não está a ser seguida, o problema é não haver medo suficiente.


Estas duas premissas, estão codificadas na forma como os governos se comportam perante os seus cidadãos, e os próprios consideram como verdade, considerando que, a natureza do ser humano é de certa forma, maligna se não controlada, e apenas os castigos, é que controlam as sociedades de não se comportarem completamente de forma vil.


Não se pode colocar em causa, que em geral, esta tem sido a forma de actuação dos governos, aumentando os castigos, como as multas, as penas, as represálias, a censura e outras penitências, para fazer com que a população se comporte da forma como estes consideram ser a mais acertada, geralmente afirmando as suas políticas como sendo "a única solução".


Infelizmente, esta forma de actuação, tem levado a um aumento cada vez maior de medo constante nas pessoas, mesmo quando estas se comportam dentro das regras, possuem medo cada vez mais crescente, mesmo quando não tem motivo algum, sentem sensações desagradáveis.


Por exemplo: há pessoas que ao se aproximarem de polícias, ao invés de se sentirem seguras, pois estes servem, para nos apoiar e ajudar a manter seguros; sentem medo de ter feito algo errado, ou esquecido de alguma coisa, e isso leve a um castigo.


Existe ainda outro meio que tem impingido muito do medo constante, que são os media em geral, a comunicação social, são tão negativas e excessivamente proclamadoras de desgraça, de tal modo que, as pessoas (em geral), tem um medo constante de que as situações que acontecem aos outros, lhes aconteçam a si; tem medo que, apesar das probabilidades serem ínfimas em muitos casos, aconteça eventualmente o mal a si ou a alguém seu amigo ou familiar; tem medo de estar vivos, porque podem em pouco tempo, deixar de estar; e hoje em dia, as pessoas até têm medo de, até sem querer, serem os causadores de doença ou morte de alguém próximo.



Estes medos crescentes, repetidos e repetidos, causam uma diminução drástica no sistema imunitário de todos, principalmente aqueles que já têm baixa imunidade, como as pessoas em baixo de forma, sedentárias, as obesas e as, com problemas de saúde, e idosos.


Quando percebemos que, já sabemos o que fazer para estarmos protegidos, podemos acalmar, baixar a guarda, respirar fundo, continuar com os cuidados, porque já fomos ao medo e podemos voltar, serenamente e com a confiança que, já estamos a fazer tudo o que podemos e devemos.


Para ter a imunidade que queremos, para ultrapassar o problema, não podemos ficar eternamente e constantemente no medo. Não ajuda e até prejudica.


Para ter saúde física e mental, não é preciso ter medo constante. É preciso ter conhecimentos, cuidados, e fazer o que tem de ser feito, para aumentar e melhorar, ou pelo menos não prejudicar o bom funcionamento dos nossos sistemas.


O medo não tem de ser constante!


Talvez um dia, agora em jeito de reflexão pessoal, possamos viver numa sociedade em que, o cumprimento das regras, se faça, pelo conhecimento, e não pelo medo. Acredito que, muitos, muitos mesmo, já não precisamos de ter medo de um castigo, pois fazemos a coisa certa, porque sabemos que é a coisa certa.


Até todos sermos assim, precisamos de aceitar as coisas como são, apenas podemos contribuir com o nosso próprio bom senso, numa sociedade, que se mostra estar ainda, a passos largos de estar toda ela a funcionar dessa forma, e cuidar de nós, usando de todas as ferramentas e conhecimentos, para nos mantermos o mais tempo possível nos sentindo bem e do lado mais positivo do espectro de emoções que existem, apesar de todas, serem óptimas para enriquecer a experiência humana.




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Fontes:

"Sistema imunitário: parte III. O delicado equilíbrio do sistema imunológico entre os pólos de tolerância e autoimunidade."


Nervosismo em excesso pode abalar as estruturas do sistema imune.

Por André Biernath em Veja Saúde


"Emoções e sistema imunológico: um olhar sobre a psiconeuroimunologia"


INFLUÊNCIA DO ESTRESSE SOBRE O SISTEMA IMUNOLÓGICO








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